segunda-feira, 23 de julho de 2018

Bill Mumy - Velour

Salve Galera do Rock!!!

Hoje, o que me trouxe até aqui foi um misto de estupefação, nostalgia e alegria. E por que tantos sentimentos envolvidos numa postagem sobre um simples disco de rock?

Bom... Vamos lá... Mais uma vez, resgatando momentos da minha infância feliz...

Sou do tempo da televisão. Quando não estava na rua brincando com os amigos do bairro (coisa cada vez mais rara nos grandes centros), eu estava em casa ou assistindo televisão ou então ouvindo os discos de vinil de meu pai e dos meus irmãos mais velhos... Tá bom... Tinha a hora de fazer a "lição de casa"...

Mas falando de televisão, este era um hábito que eu alimentava com bastante fervor, na medida em que havia um sem número de seriados e desenhos animados que faziam a alegria da molecada.

Terra de Gigantes, Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Jornadas nas Estrelas, Jeannie é um Gênio, A Feiticeira, Daniel Boone... Havia também os seriados japoneses, tal qual Ultraman e Ultraseven (e havia um, que quase ninguém lembra, que se chamava Ultra Q)... Em termos de desenhos animados... vixe... aí a coisa fica séria... Desde os incontáveis personagens Hanna Barbera (sem condições de citar os nomes)... Passando por Pica Pau e Pantera Cor de Rosa... Jonny Quest... Scooby Doo... Manda Chuva... Havia também os desenhos bem toscos (parados) da Marvel, os quais retratavam personagens como Homem de Ferro, Incrível Hulk, Thor, Príncipe Namor e outros... E ainda os japoneses... A Princesa e o Cavaleiro... Shadow Boy... Fantomas... Speed Racer... e o mais legal de todos... Sawamu (ele se julgava o demolidor)...

Porra Betão, por que você tá citando tudo isso? Isso aqui não é um blog dedicado a falar de discos e bandas de rock???

Exatamente... Mas o que me inspirou a resenhar o disco de hoje foi uma série televisiva que eu adorava (talvez aquela que mais me encantou durante minha infância)... Estou falando de Perdidos no Espaço.

Para quem não sabe do que se trata, o seriado mostrava as aventuras da Família Robinson, viajantes espaciais numa missão em direção ao sistema estelar Alpha Centauri, que se perderam no espaço e passaram a viver experiências inimagináveis, tais quais visitas em planetas desconhecidos e cheios e monstros e personagens muito pitorescos.

Os personagens da saga eram o Professor John Robinson, chefe da expedição, sua esposa Maureen Robinson e sua prole, as filhas Jude e Penny (no começo eu era vidrado na Penny, que era mais jovem do que Jude... Entretanto, ao me tornar adolescente, passei a reparar muito mais em Jude... kkkk) e o jovem prodígio Will Robinson. Além da família Robinson, o outro integrante oficial da expedição era o Major Don West, o qual, juntamente com o Professor Robinson, eram responsáveis pela navegação da espaçonave Júpiter II. Outro personagem da série era o Robô, uma parafernália mecânica que durante o andar da série ganhou ares humanos, na medida em que passou a se relacionar com os personagens de forma bastante emocional. E por fim, o vilão da trama: o pernóstico, intrigante, insidioso e pusilânime Dr. Zachary Smith.

Sem entrar ainda mais no mérito das tramas e aventuras vivenciadas pelos personagens de Perdidos no Espaço, os mais marcantes do seriado eram sem dúvida alguma o jovem Will Robinson, o Robô e o trapalhão e covarde Dr. Smith.

Eu, na minha condição de moleque, na época mais ou menos com a mesma idade do personagem Will Robinson, por certo que me identificava com o garoto esperto e aventureiro que se metia num sem número de encrencas junto com o Dr. Smith e o Robô.

Muito bem... O tempo passou... Me tornei um adulto, mas sem dúvida alguma que nunca me esqueci de Perdidos no Espaço e de seus personagens, principalmente de Will Robinson.

Dia desses, me encontrei com meu grande amigo, Wanderlei de Lima, um aficionado por séries e desenhos antigos, tais quais todos estes que citei acima. Num dado momento de nossa conversa, Wanderlei me disse que segue, via Facebook, o ator Billy Mumy (Will Robinson) e que ele é um contumaz postador de conteúdo na rede, principalmente com relação ao seu trabalho musical.

Pois bem meus amigos, o então ator mirim dos anos 1960 Billy Mumy se tornou, entre outras coisas, um músico. O sujeito é multi-instrumentista e já gravou vários discos (entre carreira solo e em associação com outros músicos).

Daí a minha estupefação, na medida em que eu nunca tinha ouvido falar de Bill Mumy (seu novo nome artístico) e de sua vasta e excelente obra musical.

E lá fui eu conferir o trabalho musical de Bill Mumy. Ouví vários de seus discos, sendo que alguns deles me impressionou bastante, positivamente falando. Um ou outro não me cativou. Mas, no geral, encontrei músicas de melodias muito agradáveis, bons arranjos, sacadas sonoras e levadas rítmicas deveras instigantes.

Bill Mumy faz uma música marcantemente inspirada naquilo que foi feito na década de 1960 e início dos anos 1970, com destaque para ritmos mais próximos do folk e da country music americana. Entretanto, em vários momentos entra em cena uma pegada mais vigorosa, onde Mumy imprime uma levada de guitarra mais forte, fazendo com que o rock tome conta do pedaço. Em outros momentos, uma levada mais bluesy também aflora e faz com que o ouvinte se inebrie com melodias repletas de swing e com algumas pitadas de grooves.

A voz de Bill Mumy puxa para algo mais rouco e levemente rasgado, lembrando em alguns momentos o grande Bob Dylan (e aqui vale um aparte, na medida em que eu diria que se trata de um Bob Dylan melhorado... E não é que eu não goste de Bob Dylan... Eu gosto! Todavia, tem músicas dele onde o vocal é sofrível).

Já no tocante às sessões de guitarra, algumas músicas me remeteram diretamente ao sensacional Neil Young, principalmente os discos da década de 1970 com o Crazy Horse.


O ALBUM VELOUR




Nesta resenha, estou tratando especificamente do disco mais recente lançado por Bill Mumy, o álbum "Velour", lançado em 2016. Entretanto, recomendo que vocês ouçam o primeiro disco solo dele, intitulado Dying To Be Heard (1997). Há outros trabalhos intermediários bastante bons.

Partindo agora para nossa breve viagem musical, a qual terá 12 paradas, falemos de "I Love My Banja Bean", canção que abre o disco e, com seus escassos um minuto e vinte e quatro segundos, nos transporta diretamente para alguma paragem bucólica do interior norte-americano. Não há muito o que dizer, mas apenas sentir... Bill e seu banjo suave nos conduzem ao começo de uma viagem tranquila e despretensiosa.

Seguindo nosso destino, temos "The Infrastructure of Our Soul", outra canção que sugere que nossa estrada é pouco sinuosa e sem grandes aclives e declives, proporcionando uma viagem sem solavancos e sobressaltos. Aqui, porém, já sentimos a presença da guitarra, a qual vem acompanhada por uma batida pouco encorpada e que certamente não tem a função de empolgar... Não que isso seja algo que desabone a música! Nesta etapa, Bill nos brinda com os primeiros tostões de sua voz rouca, entoando um cântico com um lirismo bastante voltado para a introspecção e algo na linha de uma oração.

Já em "When Roger Was Jim" a velocidade aumenta e o vento sopra com mais vigor em nosso rosto. Aqui temos uma música que me remete à sonoridade de Tom Petty, onde a guitarra se torna mais presente e instigante e a melodia mais encorpada face à uma levada ligeiramente mais vigorosa. 

Na quarta etapa dessa viagem, que tem início na estação "It's Always Something", o trem assume a velocidade de cruzeiro. Aqui sim temos um rock n' roll (com forte influência da country music) na pura acepção da palavra. As levadas e os riffs de guitarra engrossam e temos a presença mais cadenciada da bateria (mas, diga-se de passagem, que bateria não é o forte nas músicas de Bill Mumy). Em certo momento a paisagem ganha contornos bastante coloridos em função de uma brilhante incursão de gaita na música.

"Hills and Valleys" é certamente a música com a pegada mais blues do disco, insinuando um desvio para o território mais ao sul dos Estados Unidos. Nesta etapa do caminho, certamente encontramos a musicalidade negra que forjou o rock n' roll.

E o nosso trem vai serpenteando campos e vales, cruzando riachos... Adentrando pequenos povoados... Canções como "Who's Gonna Put This Fire Out", "She Came to Hollywood (For Joy)", " If I Ever Make It Back to Laurel Canyon" e "Intimate" vão nos mostrando a face das pessoas, delineando os contornos das casas e desnudando detalhes da vida simples de um artista que certamente tem uma sensibilidade muito impar.

Estamos chegando na parte final de nossa viagem, onde Bill Mumy nos embala com lindas e tristes canções que certamente falam de amor.

O destaque fica por conta de "We're One", balada de melodia lindíssima, a qual conta com arranjos de piano, cordas e gaita de tirar o folego de tão puras e encantadoras e que tem um lirismo poético ao mesmo tempo simples e profundo. Ao ouvir esta canção, dá até vontade de se apaixonar.

"I Couldn't Love You Anymore Than I Do" é a penúltima parada desta etapa final; certamente fala de amor e paixões, mas não me cativou como a anterior. 

O final da viagem sugere algo de muita tristeza... Talvez o fim de um relacionamento... Tal qual em "We're One", temos uma das mais lindas melodias do disco, onde o acorde final cala fundo em nossa alma. 

Bill Mumy não me pareceu ser um músico e instrumentista extremamente virtuoso. Algumas canções, inclusive, pecam pela falta de elementos mais elaborados e uma percussão mais forte e orgânica.

Entretanto, sua musicalidade tem uma abordagem sensacional, muito emocional e inspiradora. Ele faz música com a alma de alguém que quebrou as barreiras da superficialidade da vida atual. Esbanja pureza de espírito e sensibilidade em composições simples, diretas e que atingem em cheio os corações daqueles que estão preparados para um mundo melhor.

Foi isso que eu senti ao ouvir sua música...

Forte abraço a todos e até a próxima.

Betão Star Trips

P.S.: Gostei tanto da música de Bill Mumy, que antes de publicar esta resenha eu produzi um podcast Drops Star Trips onde falei brevemente sobre o artista e onde abordei o trabalho musical contido no álbum "Velour" e no seu primeiro disco, o álbum "Dying To Be Heard". A seguir, vocês tem o link do podcast para audição (clique na imagem abaixo):

 DROPS STAR TRIPS Nº 40 - BILL MUMY

terça-feira, 19 de junho de 2018

Greta Van Fleet – From The Fires


Bem vindos!

E encerrando esta insidiosa trilogia temos a perspectiva futura do Led: Greta Van Fleet. Ainda ligeiramente desconhecida do cenário musical mundial, os "xovens" já estão causando algum tipo de alvoroço por ai. A esta altura do campeonato temos uma porrada de informações sobre a banda, várias entrevistas em rádios, vários vídeos de apresentações ao vivo – uma no grande festival de coachella – e até uma ótima entrevista do Robertão da Planta dizendo que amou e “odiou” a banda, já que, segundo as próprias palavras, eles eram o Led Zeppelin I. O frontman do Led ainda se mostrou indignado com o cinismo do vocalista Josh Kiska, que disse ter se inspirado no Steven Tyler. Oi?!?!??????? Vi ainda outra entrevista que Josh diz ter se inspirado nos trejeitos das mãos de Joe Cocker. É muita cara-de-pau. Se você tiver saco e paciência de procurar, veja os vídeos no youtube que os caras estão caracterizados literalmente como o Led. Acrescentei alguns vídeos de caráter ilustrativo durante o post para vossa apreciação. Ta acabando, prometo!


Polêmicas à parte, vamos a algumas informações. A banda é originária de Frankenmuth, Michigan e é formada pelos irmãos Kiska, Josh, Jake (irmãos gêmeos) e Sam, além do mais recente baterista Danny Wagner. Então você já viu que os papéis estão bem desenhados e conhecidos, um cara na voz, um na guitarra, um na bateria e um no baixo, bandolim e teclados. Onde já vimos isso? O vocal (Josh) é agudo e estridente e tem o mesmo cacoete de mão de Plant; o guitarrista (Jake) posiciona a guitarra no joelho e cabeceia o ar para trás que nem Page fazia, porém usa uma Gibson SG, só para te confundir; o baixista toca um jazz bass da fender, e toca teclado (só falta falar que se inspirou no Geddy Lee); e o batera é o Bonham e ponto final.


Em minha visão a banda não é só calcada no Led, é também, produzida ostensivamente para soar como eles. E, em uma teoria pessoal, acredito que tudo isto é proposital para catapultar a fama dos ditos cujos, já que tudo que se pareça com Led gerará assunto, principalmente neste árido cenário do rock mundial, sem grandes bandas no mainstream.

Diferentemente de Robert, acho este disco mais parecido com a fase do Led Zeppelin III, em que Jimmy Page já não usava mais a telecaster, usando somente a Gibson Les Paul, e o som da banda era mais limpo. Entendeu agora porque escolhi o Led III como primeira análise? Está tudo conectado! Vamos ao disco!


Há várias opiniões sobre qual música deles é a mais Led, eu sou taxativo, é Safari Song, música que abre o disco. Cito as referências: o icônico grito inicial de Josh já dá o tom do que vem a seguir; a utilização de palavras que explodiam na boca de Plant, “Mama”, “Heart” etc.;  a modulação de tonalidade de Josh, saindo das notas altas e caindo nas mais graves; a bateria cru de Danny, mas cheia de peso; e, por fim, a minha seara: a guitarra. Jake praticamente mimetiza toda a forma de tocar guitarra de Page, dos riffs e tons, e até os solos. Iguaizinhos, sem tirar nem por. Com certeza, nas homéricas e loucas apresentações do Led nos anos 70, Jimmy tocou um solo parecido com o que ouvimos em Safari Song. Arrisco a dizer até que deve ter tocado igual, nota por nota. O que temos aqui é uma música original, totalmente encaixada no modus operandi do Led. Veja o vídeo abaixo, e veja se minto:



Em Edge of Darkness, nos acordes iniciais, sentimos que a coisa vai mudar. Tudo ainda está muito parecido, mas a guitarra já demonstra quebrar um pouco o padrão. Josh ainda soa Plant, porém notamos uma leve diferença. Aí chega o pré-refrão e estraga tudo. É Led saporra, de novo, nas palavras usadas e no jeito de cantar que, agora sim, lembra as porradas do Led I, tipo Good Times Bad Times, Communication Breakdown etc. E mais um solo igualzinho.

Até aqui, admito que o post está levemente inclinado à um tom de crítica, porém quero deixar claro que é de impressionar a competência e talento dos moleques, que, apesar de estarem copiando descaradamente o Led, estão apresentando ao mundo um trabalho 100% autoral que pode resultar em algo novo e legal. Adendo feito, voltemos ao disco!


E agora é o ponto alto do cinismo, a música a seguir, segundo os próprios integrantes é uma homenagem a Tom Petty. Mano, na boa, essa foi muito foda de engolir, sério! Não sou um grande apreciador e nem conhecedor da trajetória musical do Tom Petty, porém nunca o enxerguei como um expoente do Flower Power, título desta faixa, que também foi a expressão que caracterizou toda a geração Hippie. Sinceramente, enquadro-o muito mais aos artistas de veia folk sulista dos estados unidos, do que um integrante do “Paz e Amor”. Agora você, amante de Tom Petty e Led Zeppelin, escuta a bendita faixa e me diga o que parece? Parece muito mais uma fusão de “Your Time is Gonna Come” com “Going to California” e todas as faixas folk supracitadas no post do Led Zeppelin III. Talvez a única justificativa seja: “Ah, é uma faixa folk vai, o Tom Petty tinha uma pegada folk”. Tá, e quem foi um dos grandes expoentes do dito “Flower Power” e da psicodelia como um todo? E ai é o seguinte, tá tudo lá de novo, bonitinho, no seu devido lugar. O violão, o solo de guitarra, o jeito “Plant” de cantar - caralho, até os Oh Yeah, Oh Yeah ele faz igual – e, algo novo até agora, o bandolim e o teclado. Bom se o final da música não se encaixa perfeitamente a já citada “Your Time is Gonna Come” eu tô é ficando louco mesmo. Olha a "dedicatória" ai embaixo.


A Change Is Gonna Come é a próxima. “Peraí Leandro, você tava falando de Your Time Is Gonna Come no parágrafo anterior, então você deve ter confundido”. Não, cara, é isso aí mesmo, porém há uma explicação mais que plausível: trata-se de um cover de Sam Cooke, um dos maiores expoentes do Soul, ou o Rei do Soul, mais precisamente. Grandes nomes já regravaram esta maravilhosa peça de arte, como Otis Redding e Aretha Franklin, além de ser um dos marcos pela luta dos direitos civis no EUA. Sentiu o tamanho da responsa? Nesta faixa, por incrível que pareça, já consigo notar uma leve distanciada do estilo Led de ser, talvez por não ser uma música de rock em sua essência, contando com o elemento surpresa do coral feminino (que eu me lembre, isso o Led nunca fez). O clima folk permanece da antecessora, travestindo levemente o formato da canção original, calcada principalmente na influencia da música negra norte-americana. Os caras trajaram roupas de civis nessa música, será que continua assim?

Eis que eles colocam a farda utilizada pela força área de novo e vão lá pegar o timão do dirigível. Highway Tune começa como? Como “The Rover”! E mais gritaria! E mais “mama”! Algumas pessoas colocam esta faixa como o Led perfeito. Realmente tem tudo, um riff meio plagiado do Led, um solo característico do Page, os berros irritantemente iguais. É igual pra cacete, mas para mim “Safari Song” ainda ganha.

Meet On The Ledge começa bem setentista, mas finalmente tenta se distanciar um pouco do Led. Até o jeito de cantar de Josh aparenta estar mais apaziguado. É uma boa balada que talvez tenha até algum apelo comercial no futuro. Finalmente sinto a banda buscando algo mais próprio e original. Claro que o jeito de cantar ainda é bem parecido com Plant, porém, destaco a tonalidade da guitarra, e até o solo, que finalmente parecem não ter sidos extraídos de algum bootleg do Led. Temos talvez um horizonte mais promissor aqui.

Talk On The Street já apresenta elementos um pouco mais modernos, como o riff de começo, saindo da zona de conforto da cópia. Eu acho que a medida que o disco vai chegando ao fim, a banda começa a buscar sons diversos e elementos mais próprios. Aquele clima setentista ainda está lá, mas parece que as palavras das letras já não são colocadas para dar a entonação zeppeliniana. Claro, os bicordes e afins, ainda nos remetem aos caras, talvez até um pouco a pegada do Led Zeppelin II, mas, sinceramente, já vejo uma mudança de tendência. Cabe ressaltar também que a banda não pode se sustentar com fãs saudosos do Led, então provavelmente eles acabarão buscando sons mais comerciais, com menos viagens de ácido e menos solos grandes de guitarra, como podemos verificar já nesta faixa.

E encerrando a epopeia, Black Smoke Rising. Gosto de todas as músicas do disco, mas este é o ponto alto. A banda finalmente parece soar original, com uma música potente e um refrão que gruda. Claro que novamente é muito da guitarra do Page, principalmente no refrão e nas partes mais lentas. Outro ponto importante é, o timbre de voz de Josh é muito parecido com o de Robert, então, para que a banda realmente trilhe outro caminho criativo, o ideal é buscar novas formas de cantar, nunca fugindo da inspiração inicial, é claro.


A pergunta final que fica é: o que será desses talentosos jovens mancebos ávidos pela retórica Zeppeliniana? Só o tempo nos dirá. Estou super ansioso por um segundo trabalho de estúdio, que para mim mostrará onde realmente a banda quer chegar. Ainda falta um longo caminho a trilhar, falta uma leve maturidade musical e, quem sabe até, uma leve pitadinha de cocaína (não me matem, é só uma brincadeira!), mas temos que dar o braço a torcer, o dirigível de chumbo está em boas mãos, hein?

Grande abraço!

quinta-feira, 7 de junho de 2018

The Black Crowes – Amorica


Bem vindos!

Conforme prometido, contínuo minha incursão despretensiosa nos vales de chumbo Zeppelinianos, tentando provar o improvável: o Led criou tendência, formatando uma linearidade temporal de passado, presente e futuro. Neste post discorro sobre o presente!

“Banda do presente? Os caras se separaram em 2015, não fode!” Eu sei que os muitos (dois, o Betão e eu) leitores do Blog devem estar se perguntando por que escolhi Black Crowes, uma banda que mais anda separada que outra coisa, como a perspectiva presente de Led. Em minha defesa alego que Black Crowes é uma banda com potencial de fazer algo relevante para o rock, mesmo tendo que lidar com os egos explosivos e incompatíveis dos irmãos Robinson - quem conhece a história da banda sabe do que estou falando. Acrescento ainda que os caras já encontraram a sonoridade e identidade deles, produzindo um conteúdo totalmente autoral e magnífico!!! Eles foram e voltaram várias vezes (tipo o Scorpions) então ainda tenho fé que voltem o quanto antes.


E por que o Led do presente? Esta é a parte mais interessante para mim, pois talvez para olhos menos atentos não há tantas semelhanças assim. Uma banda que contou com seis membros em sua formação (um teclado e uma guitarra a mais da formação do Led com quatro), um vocalista estridente, mas sem o alcance total de Robert, com leves trejeitos de mick Jagger, além de uma dobradinha de guitarras, coisa que o Led nunca teve. Concordo, porém, o som dos mestres do dirigível está lá, sem tirar nem pôr, nos riffs, no clima blues rock com muito peso, na pegada setentista e por aí vai.

E o argumento final: quem fez um show na Grécia em 2000, que virou cd e dvd, com nada mais, nada menos que Mr. James Patrick Page, reproduzindo os maiores clássicos dos ditos cujos? Ponto final, 7 a 1 pra mim!

E por que Amorica? Porque eu gosto desse disco e a arte da capa é polêmica (coloquei a foto de uma versão minimalista, mais light, julguem-me).


Foi, mas já? Calma lá, Gone chegou, mas ainda não foi. Umas batidinhas leves de colher no copo, ditam o ritmo da guitarra abafada que puxa o trem. Não temos um retorno aos anos 70 à Zeppelin, porém toda a pasta base que criou o Led, dá o tom nesta música. Microfonias, guitarras sujas, solos de veia blueseira e muita gritaria de Chris Robinson. Tem até piano de criança. E sem trocadilhos, “foi” tudo isso aí mesmo. Uma porrada!

Em flagrante ação conspiratória com o Belzebu, em alguma encruzilhada empoeirada, A Conspiracy monta sua armadilha. É cheia de swing, com muito pedal Wah Wah, saindo da nebulosa Inglaterra e indo direto a Seattle, ao covil do saudoso mestre das seis cordas, Jimi para os íntimos. Mas como o título anuncia, não passa de uma tramoia, e o refrão taca o Led na tua cara, te dando um belo traumatismo craniano. O riff do refrão e o mini solo do fim são Jimmy (não vai se confundir com os Ji(mi)mmy(s) aí não hein?) em essência.

Num suave tom de galhofa High Head Blues começa, com uns reco recos de pia de área de serviço, um riff de poucas notas e um clima de fim de tarde ensolarado. Ai a porrada chega no refrão, com direito a Hammond, E7/9+ (busque conhecimento) e batata frita em óleo vagabundo acompanhando. Chris Robinson não é o Plant de verdade, mas tem toda marra de cantor branco de blues de seu antecessor. Um solinho vulgar (no bom sentido) à Page no fim, dá tons finais. Pois bem, apertaram a bagana durante toda a música, acenderam e puxaram só para deixar a “cabeça lá no alto”. Menção honrosa ao clipe que eu adorava assistir na MTV, viagem pura!



Cursed Diamonds é a primeira balada do disco e nos transporta diretamente a outro petardo Zeppeliniano: Ten Years Gone. Acordes molengas em uma guitarra limpa e algumas notas de piano acompanhando, aram a terra para o que vem pela frente. Eis que tudo explode e a fórmula de sucesso está toda lá, um puta riff pesado, a voz estridente e blues de Chris e um delicioso e cortante slide de guitarra que tira um teco de nossos corações. Aquela tensão e calmaria que só o Led propicia está ai jovens!


Non-fiction é uma de minhas favoritas do disco. Não sei pontuar diretamente por quê, porém Black Crowes sempre me dá a impressão de ser a junção de duas bandas que simplesmente amo: Led Zeppelin e Allman Brothers Band. O clima de blues sulista está sempre lá, com um pezinho no country, meio dançante e um galho de trigo no canto da boca. Ambas as bandas foram mestres em criar este clima, mesmo uma sendo de origem britânica. Escute a música Midnight Rider do Allman Brothers e prove que isto tudo não é uma ficção. Mais uma balada perfeita para se deleitar em um dia tranquilo, aumentando o som e cantando alto o refrão.

Hammondzinho de leve, só para clarear as ideias. Ai a guitarra vem e estraga tudo. She Gave Good Sunflower traz um pouco de peso de novo e te faz balançar a cabeça em uma leve convulsão de sentimentos. Mais setentista impossível, principalmente no belo solo de guitarra, cheio de wah-wah (de novo? Vai gostar assim lá na pqp). Faça um esforço e repare na base cheia de tensão que faz o pano de fundo para os dois solos. É possível ouvi-la melhor após um breve silêncio, acompanhada posteriormente pelos votos de amor de Chris. É um dos contrapontos mais interessantes do disco, mostrando que não é só uma banda de inspiração e aspiração setentista.   

Agora é bluesão nos moldes de Muddy Waters na tua cara, guenta ai! P. 25 London traz aquela gaita estridente dos mestres clássicos do blues, dos mestres clássicos do Led, isso aí é mais clássico que Mozart, rapá!!! Atente para a guitarra slide em clara fusão com a gaita, detonando nossas mentes. E dá-lhe solo. Acho que os irmãos Robinson se odeiam, pois não foram capazes de tolerar seus gigantescos talentos. Infelizmente essa é uma das grandes mazelas da música. Egos!!!

Faz-se necessário, a esta altura do campeonato, uma balada que nos represente. Ballad In Urgency veio suprir esta lacuna. E para resolver tal problema trouxeram o conhecimento adquirido desde Beatles: guitarra trastejando com cara de cítara, bons refrãos e um inquestionável solo de guitarra. Para concluir, passarinhos, piano, baixo fretless (me corrijam, mas parece baixo sem traste) preparando o prelúdio do que vem a seguir...

... os tempos de sabedoria chegaram para deduzir nossos espíritos. Wiser Time é o ponto alto do disco senhores, como um corredor ultrapassando os retardatários, nada irá alcança-lo. Lembro-me a primeira vez que a ouvi, parei tudo que estava fazendo, pois, o céu é aqui mesmo na terra. É o tipo de música para ouvir viajando, viajando de carro, de avião, na sua mente, em qualquer lugar. Tem blues, tem letra bonita, tem solo de guitarra, de piano, de lap guitar, de violão blues (caixa acústica de metal). Tudo o que você precisa tá ai, nem precisa sair de casa para comprar arroz e feijão.




Uma pequena digressão. Black Crowes, assim como o Led, nunca se furtou a recriar o blues em seu mundo musical, e, este, talvez seja o maior elo que os une. São bandas de blues que quiseram fazer mais e esbarraram no rock. Downtown Money Waster é a prova irrefutável disto. Você enxerga tudo:  slide de pacto com o demônio, a musicalidade do delta blues e Chris buscando incessantemente a blue note.

Mais uma ótima balada pela frente, Descending, tão boa quanto as feitas pelo Led. Tudo o que já foi falado anteriormente aparece aqui, slide em violão - os caras gostam muito de slide, e quem não gosta? – um ótimo refrão e um piano suave e limpo que finaliza os trabalhos. Em via de regra, o disco acaba aqui, porém, a versão analisada aqui, (UK 1998 Reissue) ainda tem mais duas músicas!

Song Of The Flesh começa absurdamente estranha, com uma base de teclado que parece fora de contexto e uma gaita nada a ver (para dizer no mínimo) dando a impressão que começou errado. Quando o blues volta, tudo entra nos eixos, como um trem voltando a terra natal. Cara, e dá-lhe slide, mas a gente não enjoa!!!

E por fim, mas não menos importante, temos nosso momento Bron-Yr-Aur na prolixa Sunday Night Butterfly Waltz. Um belo instrumental, contando somente com um violão, carregado do sentimentalismo folk de outrora. Sinceramente, gosto do jeito que o disco acaba neste release, mesmo sabendo que talvez a concepção inicial do álbum não contemplava esta música.

Black Crowes é isto, uma banda de rock, despudorada em soar blues, com talentosos músicos totalmente influenciados por grandes bandas dos anos 70, em especial o Led, que contava com uma energia frenética em suas apresentações ao vivo. Destaco que apesar de beber do cálice abençoado do dirigível de chumbo, ela sempre teve vontade própria e personalidade. Já não posso dizer o mesmo dos “xovens” que vem a seguir.

To Be Continued, Again...

Grande Abraço!

**Editado em 08/06/2018

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Led III – Uma análise tripla de passado, presente e futuro


Bem-vindos, novamente, promíscuos concubinos do rock!

Este blog sofreu um grande hiato, devido a fatores externos e que envolvem forças maiores, porém não devem ocupar sequer meia palavra neste espaço. Eu e o Betão prometemos entreter novamente os amantes do rock com mais posts sobre este estilo tão amado. Sem mais delongas vamos ao que importa.

“Porra Leandro, você não posta nada há anos, e vai voltar para falar de Led? Cadê a proposta de Blog descolado, metido a alternativo? Toma vergonha nessa cara!” Calma lá! Primeiro que Led sempre gera assunto (fale bem ou mal de mim, mas fale) e gerará assunto para sempre. Segundo que estes quatros ingleses criaram um aparato musical que será copiado, imitado, sampleado e reverenciado perante toda a eternidade, passando pela guitarra suja de Jimmy, pela voz rasgada e estridente de Robert, pela sensibilidade e virtuosismo de John no baixo, bandolim etc., e por fim, mas não menos importante, a porrada absurda na bateria do outro John. Claro que ainda falta citar todos os trejeitos e cacoetes que tinham em cima de um palco, criando moda e tendência. E já vou avisando que este blog, em toda a sua proposta de catarse, não passará pano algum para estes senhores, que apesar de serem uma sumidade em termos de criatividade, tem a carreira marcada por diversas acusações de plágios, algumas infundadas e outras totalmente descaradas.

E qual a motivação desta análise? V.Ex.ª Alberto Costa, Betão para os íntimos, veio de sobressalto, em uma conversa descontraída de Zap, denunciar os absurdos cometidos por uma banda composta por quatro fedelhos de Michigan, EUA. “Quem são os caras?” perguntei eu. “Greta Van Fleet, já ouviu falar?”. Talvez por mera coincidência do destino havia lido uma matéria na internet sobre os ditos cujos, falando sobre a participação deles no Oscar, tocando com o vulgar Elton John (ironia detected). “E qual é a deles Albertones?” novamente indaguei. “É Led, saporra”. Não sei se certamente com estas palavras, mas o conceito é este. Pois bem, como sou um maníaco obsessivo por conhecer a fundo a história das bandas que aprecio, fui atrás como um viciado no auge da abstinência. Ouvi tudo que tinha de gravações de estúdio no youtube, vi boa parte dos shows disponíveis e, finalmente, dei-me conta de algo muito importante. Nós, roqueiros, sujos e morféticos, estamos extremamente carentes de um novo Led! 

Vivemos um momento da mais pura bunda molice no cenário mundial de rock, com falta de vontade, criatividade e uma inércia que parece não ter fim. Meu objetivo aqui não é denunciar outros estilos, respeito todos, de coração, pois a vida me ensinou a ser menos xiita e elitista com relação à música. O que me entristece é ver que o rock não produziu mais nada de relevante nos últimos anos, apesar de ter muita gente fazendo coisas legais, autorais, diferentes e artísticas, que vai de figurões do rock à bandas experienciando as margens do mainstream. A grosso modo, tá faltando novos movimentos como: grunge, punk, progressivo, alternativo, heavy metal entre outros.

“Voltou com tudo hein? Tá viajando na maionese!” Querido leitor, espero ao final deste post concluir com sucesso minha linha de raciocínio. Vá se preparando para o pior!

Por fim, se você acompanha o Blog, já deve ter notado que Led moldou meu caráter musical, e o de grandes músicos famosos pelo mundo, e, por este motivo, é a banda que pode ser usada como referência para qualquer outra que se aventure por aí. Não é raro ouvir “nossa, esta banda é o novo Led” ou “esta banda é o Led dos anos 90”. Estas frases podem ser replicadas também para Sabbath, Beatles, Floyd etc.

Em suma, Led é foda, amamos mais que x-bacon e estamos muito frustrados por nada tão bom surgir. Sendo assim, minha proposta é: traçar uma linha do tempo do Led, apresentando passado, presente e futuro, representados pelos discos, Led Zeppelin III (do próprio), Amorica (The Black Crowes) e From The Fires (Greta Van Fleet) em 3 posts distintos (ficou grande pra kct, era tudo um post só, então eu quebrei). Explico as escolhas posteriormente, confiem em mim. Vamos lá!

Led Zeppelin – Led Zeppelin III


O Led é o passado por razões óbvias, né, nem precisa explicar? Olha as caras de tiozões do rock ai! (O Robert ta parecendo a mistura do Oswaldo Montenegro com a Vanderléia)


Escolhi Led Zeppelin III para este post pois acredito que o disco seja o ápice da maturidade musical da banda, sem menosprezar, obviamente, os dois anteriores. Toda aquela fúria verificada no primeiro álbum, foi se dissipando, atenuando e o caminho a ser seguido ficou límpido e claro, com a banda finalmente alcançando o paroxismo da mescla “chumbo que flutua”. A escolha desta magnífica obra de arte embasará os comentários sobre o presente e futuro também.

Como uma fita rebobinando, sem precisar de caneta bic, a horda provinda de valhalla - o olimpo dos deuses nórdicos - traz o martelo voraz de Thor e cia, que açoita a carne da incauta humanidade. “Valhalla, I am cominggggg”. É isto senhores, aqui está Immigrant Song, uma das músicas mais barra pesada já feitas, com um riff absurdamente simples, em contraste ao gelo e o sol da meia-noite. Robert grita a plenos pulmões, estridentemente, rogando uma praga pestilenta sobre os ouvintes. Posso dizer sem medo da leviandade, que esta música me fez arder em paixão por Led. A despretensão total em não soar como um clássico, a torna épica. Afaste os móveis e tente não se jogar na parede enquanto escuta, ela passa rápido e não vale a pena morrer por ela (será?).


O próximo petardo já foi falado aqui no Blog, no post sobre o disco No Quarter, da duplinha carimbada Page & Plant. Friends perdura a despretensão da música anterior, porém é rica em detalhes. Um violão de afinação aberta, um Robert agudo de quebrar taça, sintetizadores, vozes não identificadas ao fundo, um vento que traz o gosto salgado das areias do longínquo deserto babilônico. Kashmir só veio no sexto disco da banda, e Friends, com certeza é o prelúdio. Possui um fim espacial que culminou em celebração. Celebration Day é o sarau de comemoração aos anos 70. Vamos cantas, dançar e curtir isso tudo. Começa como um country sulista, cheio de subversão blueseira, que te contagia. Mr. Page não poupou crueldade nas guitarras e é o grande destaque da música. Mr. Plant continua com sua voz irritantemente saborosa. Mas a cozinha está lá, John², mexendo essa panela com força, para não queimar no fundo. Ficou felizinho? Se prepare para o pior então.

Since I’ve Been Loving You é a melancolia em sua maioridade cívica. Pode ser só uma música de amor, porém atravessa o peito e te sufoca em lágrimas. Esta paixão hipócrita sai fervorosamente do coração e atinge em cheio as cordas da guitarra. No trecho em que Plant bate em nossa porta, denunciando a perfídia, a música explode em magnificência. Destaque para a frieza e precisão de Bonzo em agredir a bateria, como se estivesse fazendo ao amásio. Seria mentira dizer que esta é minha versão favorita desta música, principalmente para quem acompanha o Blog e já leu isto aqui, porém continua sendo meu ponto alto do disco.

A celebração volta em Out On The Tiles e a porrada come solta. Creio que esta música é o divisor de águas do disco, trazendo todo o peso visceral do Led, seja nos grandes riff de guitarra, na bela vocalização e na consistência baixo e bateria. O que vemos a seguir é uma mudança de andamento mais amena, em que o dirigível começa a revoar por terras mais “folk”. Aguente firme, pois Gallows Pole chegou para nos salvar, com uma bela pitada acústica, com um bom punhado de influência norte americana, ou seja, uma já conhecida receita de sucesso.

E o acústico continua e o country também em Tangerine, a primeira baladinha do disco, recheada de simples acordes em um belo violão 12 cordas - é tipo uma viola, só que a viola tem 10 cordas, porque gringo faz tudo melhor #ironiaagain. É uma melodia doce como uma mexerica mesmo, e inocente como uma paixão de adolescente.

A partir da metade o disco assume esta toada acústica e vai até o fim, e é assim que tem que ser: That´s The Way. John Paul Jones nos brinda novamente com um tímido bandolim, que propicia o clima dos fados lusitanos, já abordados em outro post sobre o Led. E ainda tem uma guitarrinha de colo, que acende um incenso floral ao fundo para transcendência espiritual.


Agora o momento mais polêmico do disco, pois aqui temos dois plágios, Bron-Y-Aur Stomp e Hats Off To (Roy) Harper. Pelo menos é o que nosso colega de longa data, google, nos diz. A primeira está na lista dos plágios de Jimmy a Bert Jansch (se você curte música folk da Escócia, Irlanda e agregados, PROCURE MAIS SOBRE ESSE CARA!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e a segunda é mais um blues orgânico dos anos 20, talvez perdido em sua real autoria, que os caras do Led foram lá e kibaram. Plágio ou não, são músicas excepcionais, que exalam o fresco e fétido odor dos mangues formados no rio Mississipi, desaguando na terra do Jazz, New Orleans. Toda essa carga emocional está lá, seja no bumbo exagerado de Bonham, ou no slide ansioso de Page. Vale destacar que o disco termina onde o Led começou, no diabólico delta blues!

E aqui terminamos o passado, a fundição que concretou o rock de várias maneiras. Vários cantores apareceram depois cantando agudo de estourar taça, centenas de guitarristas colocaram a guitarra no joelho enquanto fumavam (tá bom, Keith Richards é o pioneiro), um monte de baixista que toca piano (Geddy Lee?) e por fim, mas novamente não menos importante, trocentos bateristas tomaram coragem e fizeram solos de 40 minutos.

To Be Continued...

Grande Abraço!

quinta-feira, 22 de março de 2018

BELOW THE WASTE - ART OF NOISE






Dou início a este texto me desculpando com aqueles que curtem um rock mais tradicional. E faço isso por conta do tema de hoje, o álbum "Below The Waste" do grupo britânico "Art Of Noise".

Para aqueles que não sabem, um dia eu já tive um programa de rádio, que se chamava Star Trips e ia ao ar todos os domingos na antiga FM comunitária Star Sul (na região do bairro Vila Santa Catarina, na cidade de São Paulo). E neste programa, o meu intuito era tocar o rock de todos os tempos, estilos e tendências... Certamente, o melhor do rock nacional e internacional passou pela programação musical do Star Trips.

E um dos quadros do programa era aquele que eu costumava chamar de "Fronteiras do Rock", onde eu abordava coisas inusitadas relativas ao mundo do rock. Era um segmento do Star Trips no qual eu mostrava aos ouvintes que música não tem limites e fronteiras e que, muitas vezes, misturas musicais das mais inusitadas davam resultados extraordinários.

E neste sentido, levei ao ar muita coisa diferente em termos de viagens musicais com viés rockeiro, tais quais o rock do Led Zeppelin sendo performado pela Orquestra Sinfônica de Londres (um projeto musical do músico britânico Jazz Colleman); a música do grupo alemão Van Canto (um sensacional grupo musical vocal, o qual faz o som dos principais instrumentos apenas com a voz e com a ajuda de pedais); projetos musicais nacionais tais quais Língua de Trapo, Premeditando Breque e Arrigo Barnabé; Giberto Gil cantando um rock swingado fenomenal; o projeto musical Moda de Rock (dos músicos e violeiros Ricardo Vignini e Zé Helder); a musica viajante do Dead Can Dance; o post punk igualmente viajante do Cocteau Twins... E muito mais...

E a música do Art Of Noise fez parte do Star Trips através de diversas incursões na programação musical que eu elaborava. 

Por essas e por outras razões é que estou abordando neste canal cultural a "arte" musical deste sensacional projeto ART OF NOISE... E mais especificamente, o quarto álbum "Below The Waste", trabalho musical pelo qual alimento bastante admiração e carinho. Abaixo, temos a contracapa do disco (na versão em vinil).





ART OF NOISE - UM BREVE RELATO

Cabe aqui contextualizar este projeto musical através, inicialmente, de um breve relato sobre a história do grupo e de seus idealizadores.

O Art Of Noise, em termos de classificação musical, pode ser considerado como um grupo a ser enquadrado na categoria "avant-garde synth-pop". Mas há aqueles que classifiquem sua música apenas como "eletrônica", o que eu, de forma alguma, concordo. Na minha opinião, a música produzida pelo grupo é muito mais profunda do que isso, passando inclusive por momentos que podem até ser classificados como música clássica, jazz moderno, jazz rock ou tantos outros estilos e sub-classificações que surgem aqui e ali dentro das canções. Certamente que o termo "eletrônico" se encaixa no contexto, mas reduzir a música do grupo simplesmente a isso não me soa justo. 

O grupo(1) iniciou suas atividades em Londres, no ano de 1983, e foi formado originalmente por um conjunto bastante heterogêneo e inusitado de pessoas do meio musical britânico, a saber, o músico e produtor Trevor Horn, o músico e programador musical J.J. Jeczalik, o engenheiro de som e produtor musical Gary Langan, a compositora, tecladista e maestrina Anne Dudley e o jornalista musical Paul Morley.

Esta formação é a que predomina durante todo o período de atividade do Art Of Noise. O grupo manteve-se bastante ativo durante o período de 1983 até o ano 2000; depois disso reuniu-se apenas em algumas apresentações esporádicas; mas ainda considera-se que é um projeto musical em atividade. Entretanto, houve certa alternância de membros em diversos períodos, sendo que Anne Dudley foi a única integrante que participou de todas as fases do Art Of Noise.

Entre o período 1998-2000, o músico e guitarrista britânico Lol Creme também fez parte do grupo, sendo esta a única fase que não contou com J.J. Jeczalik.


  1. Notem que em todos os momentos eu me refiro ao Art Of Noise como um "grupo" musical; isto é um critério pessoal meu, pois não os enxergo meramente como uma banda, na medida em que eles não tem uma formação clássica com músicos que tocam guitarra, bateria, baixo, teclados e/ou outros instrumentos. Na minha visão, trata-se muito mais de um projeto musical, algo especial e fora do padrão, razão pela qual não consigo enquadrá-los como uma banda. Isto ficará mais claro no decorrer do texto.



Sempre que falo aos amigos sobre o Art Of Noise, via de regra, quase ninguém conhece. E se já ouviram falar ou mesmo ouviram algumas de suas músicas, estas são certamente a versão deles para "Kiss" (do cantor e compositor Prince), a qual conta com a participação do famoso cantor galês Tom Jones; e outra das músicas mais conhecidas do grupo é a instrumental "Peter Gunn" (composta originalmente pelo músico americano Henry Mancini), a qual lhes rendeu uma premiação no Grammy Award em 1986.


UM POUCO MAIS SOBRE A MÚSICA

Uma das principais características da música produzida pelo Art Of Noise é o uso bastante intenso de "samplers". Além disso, podemos dizer que grande parte das músicas são "colagens musicais", via de regra instrumentais, as quais mostram aos ouvintes passagens sonoras, em alguns casos, bastante díspares, com uma constante alternância melódica e sonora. E isto, certamente, causa bastante estranhamento nas primeiras audições.

Entretanto, é justamente esta alternância melódica e de sons que costuma atrair os fãs, principalmente os mais afeitos à música eletrônica e tecnológica.

Podemos dizer que, em termos tecnológicos, o Art Of Noise é um dos pioneiros em seu estilo, na medida em que Trevor Horn foi uma das primeiras pessoas a adquirir o "Fairlight CMI (Computer Musical Instrument)", uma das primeiras estações de áudio digitais associadas à sintetizadores de som e samplers que foram concebidas mundialmente (equipamentos originários de uma empresa australiana).

Os primeiros trabalhos do grupo foram classificados como "techno-pop" ou ainda "experimental rock".

Além das colagens sonoras, muitos outros elementos foram utilizados nas produções, tais quais vozes de pessoas notórias e trechos modificados de músicas famosas ou temas de filmes.

Outra característica bem forte que podemos sentir ao ouvir as canções é a alternância de melodias ora extremamente dançantes (recheadas de batidas fortes e muito cadenciadas) com outras mais suaves e contemplativas, tudo dentro de uma mesma faixa musical.


BELOW THE WASTE... FINALMENTE

Cheguei finalmente ao objeto da resenha.

Como dito mais acima, o álbum Below The Waste é o quarto trabalho lançado pelo Art Of Noise, sendo que o mesmo foi produzido, gravado e lançado entre 1988 e 1989.

Trata-se de um trabalho que não teve uma grande repercussão entre crítica e público. E talvez isto tenha acontecido por uma certa mudança de rumos em relação aos três trabalhos anteriores.

Na medida em que Anne Dudley e J.J. Jeczalik contaram com a participação do grupo musical sul-africano "Mahlathini and the Mahotella Queens", os quais aparecem em 3 das 12 músicas do disco, o trabalho como um todo acabou sendo considerado por alguns como "world music".

Certamente, o álbum tem algumas canções bem na linha "world music", entretanto eu não o classifico desta forma. Continuo a classificar a música constante deste álbum como "avant-garde synth-pop", uma vez que, o álbum como um todo está recheado de elementos musicais eletrônicos e samples bastante característicos da linha musical que o grupo aborda.

Todavia, concordo com a crítica no sentido de que houve mudanças significativas em relação aos trabalhos anteriores.

Acontece, porém, que tais mudanças de rumo, na minha avaliação, elevou a qualidade musical do Art Of Noise. As canções ficaram mais sofisticadas, mais melodiosas, mais ricas em termos de misturas de ritmos diversos.

Neste trabalho, o Art Of Noise contou apenas com Anne Dudley e J.J. Jeczalik (também assina a produção Ted Hayton).

Coube a Anne Dudley as abordagens musicais mais melodiosas e orquestrais; já J.J. Jeczalik certamente imprimiu um ritmo mais forte e mais dançante ao trabalho, concentrando esforços em colagens e passagens musicais repletas de batidas vigorosas e elementos musicais "funkeados" e também algumas doses de rock n'roll.

Falando agora sobre as canções, esta resenha contempla, na verdade, a versão de Below The Waste lançada originalmente em vinil, a qual tem algumas diferenças em relação a outras edições do disco.

Finalizo esta descrição geral do álbum destacando um detalhe bastante interessante aos amantes de equipamentos de som de alta fidelidade. A capa do disco conta a foto de um par de caixas acústicas estilizadas, fabricadas por uma das mais notórias marcas de equipamentos audiofônicos, a britânica "Bowers & Wilkins" ou simplesmente "B&W". Isto é apenas mais um indicativo de que estamos tratando de um grupo musical diferenciado, que pensa nos mínimos detalhes quando o assunto é a produção de um trabalho musical.


AS MÚSICAS


YEBO!


Canção com fortes elementos da música africana, YEBO! é uma das músicas que conta com o grupo musical "Mahlathini and the Mahotella Queens", o qual alia seu som repleto de arranjos vocais e batidas tribais ao som eletrônico do Art Of Noise. Há ainda algumas passagens musicais que contam com excelentes arranjos e riffs de guitarra, imprimindo uma pegada jazz rock bem interessante.


CATWALK

Excelente canção, repleta de swing e grooves. Lembrou-me os bons tempos da dance e funk music do finalzinho dos anos 1970. Música legal para você colocar no começo da festa; certamente vai fazer a galera se mexer e se intrigar com os diversos elementos sonoros que a tornam misteriosa e sofisticada.


PROMENADE 1

Interlúdio de pouco mais de 30 segundos que contrapõe totalmente a proposta musical da duas primeiras canções; melodiosa ao extremo, a música conta com arranjos orquestrais divinos, porém, tristonhos. Lembra um filme triste.


DILEMMA

Esta é uma das músicas do álbum que mais se enquadram na proposta original do Art Of Noise. Uma sequencia de batidas cadenciadas mescladas por samples de todos os tipos (vozes humanas que cantarolam melodias disformes, relincho de cavalos, cantos gregorianos, gritos e mais um sem número de sons). Tenho para mim que a grande maioria das pessoas vai pular esta música.


ISLAND

Peça musical de quase 6 minutos, Island é um primor de música. Melodia repleta de elementos orquestrais e piano, entremeada por uma batida suave e cativante, a musica certamente leva o ouvinte até uma ilha paradisíaca. No finalzinho da música entram em cena os clarinetes, conferindo à canção um ar clássico estupendo.


DAN DARE

Abrindo o lado B do disco, Dan Dare é mais uma das canções climáticas e enigmáticas do álbum. Porém, esta música equilibra bem os elementos mais melodiosos e orquestrais com batidas e levadas mais dançantes. Outro som que nos propicia momentos bem viajantes.


CHAIN GANG

Mais uma das canções que conta com os sul-africanos do "Mahlathini and the Mahotella Queens". A música começa com vozes femininas entoando um canto africano; logo em seguida entra em cena uma melodia permeada por uma batida em segundo plano, a qual funciona mais ou menos como um mantra percussivo, imutável nos primeiros minutos. Aos poucos a música vai crescendo em termos de vozes, elementos sonoros e instrumentais, até desembocar num arranjo "funkeado" e com riffs de guitarra bastante instigantes e dançantes.


PROMENADE 2

Mais 38 segundos de um lindo interlúdio. Momento para respirar fundo e se preparar para a parte final da viagem, a qual conta ainda com quatro cativantes etapas.


BACK TO BACK

Melodia extremamente cativante, aliando elementos melodiosos e levadas levemente dançantes. Guitarra e batidas proeminentes, esta é sem dúvida a música mais rock n'roll do disco.


FLASHBACK

Música de batida e levada fortemente jazzística, modernosa. Curtinha, com apenas 1 minuto e 45 segundos, quando você começa a gostar ela acaba... uma pena!


SPIT

Esta é a terceira canção do disco que conta com a participação do grupo musical sul-africano. Uma delícia de música. Acho que, dentre aquelas mais dançantes, esta é a que eu mais gostei. Além disso, o trabalho vocal é maravilhoso.


FINALE

Uma verdadeira peça clássica, nesta canção Anne Dudley nos envolve por completo com suas passagens musicais extremamente melodiosas. Trata-se de uma música criada por alguém que certamente tem uma sensibilidade musical das mais nobres. E fecha o disco nos deixando sem chão. Toda vez que a escuto, preciso ficar alguns segundos em silêncio para me recompor.



CONCLUSÃO

Finalizo esta resenha na certeza de que passei a minha mais sincera opinião sobre o ART OF NOISE e sobre esta maravilhosa obra musical contemporânea.

Espero, com este texto, sensibilizar a todos os leitores, de forma que o mesmo os façam querer ouvir o disco. E mais, espero que todos sintam a beleza e a força das canções.

Uma dica:

Numa primeira audição, recomendo estar só, num ambiente agradável, se possível na meia luz, saboreando um bom vinho. 

Um forte abraço e até a próxima.

Betão Star Trips

sábado, 10 de março de 2018

Acid Tree - Uma abordagem musical recheada de mistérios

ACID TREE



Salve Galera do Rock!

Estou de volta aqui neste canal de divulgação de rock tão especial. E neste retorno escolhi um trabalho muito especial, de uma banda brasileira, a qual faz uma música misteriosa e enigmática, recheada de elementos filosóficos e introspectivos.

Estou falando do ACID TREE, power trio paulistano composto por Ed Marsen (vocal e guitarra), Ivo Fantini (baixo) e Giorgio Karatchuk (bateria).

Vou iniciar a minha abordagem tratando dos aspectos musicais do grupo, pois estamos falando de músicos que mostram muita habilidade técnica e competência; em todos os sentidos. Tanto na performance ao tocar, quanto nas composições (e neste quesito, mais uma vez os caras são muito bons) as canções são bastante impactantes; sons atmosféricos, densos, intrincados, com fortes mudanças de andamento (às vezes se tornado um som bem pesado).

No quesito letras, eles viajam nessa mesma linha, ou seja, temas bem introspectivos e enigmáticos, os quais sugerem viagens em ambientes mágicos e sombrios; eu diria que eles exploram muito bem o lirismo poético nas canções e isso, por certo, sensibiliza muito o ouvinte.

Bom meus caros leitores, pelo o que eu pude apurar, eles já estão juntos desde 2013 (mas há registros na internet de que já em 2012 alguns dos membros do grupo estavam atuando de alguma forma). De concreto, conversei com Ed Marsen e ele registra como certo o ano de 2013. Enfim, para mim pouco importa se foi 2012 ou 2013. O primordial mesmo é que desde esta época eles têm trabalhado duro e com muita paciência no sentido de desenvolver a sonoridade da banda de uma forma muito especial. E todo este árduo trabalho e perseverança começou a dar frutos mais consistentes no ano de 2016 e mais ainda em 2017.

Foi no ano passado que eles resolveram efetivamente lançar o primeiro trabalho de estúdio (o álbum ARKAN), uma compilação musical que conta com 6 excelentes canções.

E pelo o que eu li num dos tantos registros que constam da internet, eles já tinham gravado estas músicas anteriormente, mas somente resolveram partir para a "prensagem" do disco no ano passado, justamente depois de consolidarem bem o trabalho junto ao público.

E neste sentido, eles mostram um profissionalismo bastante grande e demonstram na prática que o sucesso é algo que não surge assim do dia para a  noite; tem que trabalhar muito; ter perseverança; planejamento; estudar bem cada passo a ser dado. Por tudo isso, mesmo sendo uma banda de músicos jovens, eu diria que o grupo demonstra extrema maturidade, em todos os sentidos, mas principalmente em termos musicais.

E o sucesso começou a se materializar através de veiculações das músicas da banda na Kiss FM, por intermédio do Walter Ricci (locutor da rádio), o qual tem inserido músicas do Acid Tree em sua brilhante programação musical. 

Mas 2017 tornou-se um ano mais do que especial para o Acid Tree não apenas pela aparição da banda no rádio. 

O ponto alto se deu com a participação do grupo na "REBIRTH OF SHADOWS TOUR" de Edu Falaschi, onde o Acid Tree abriu todos os shows desta turnê, a qual passou por diversas cidades do território brasileiro. 

A tour terminou em São Paulo, no dia 21 de janeiro de 2018, em show que rolou no Carioca Club e que teve a participação especial de Kai Hansen (Helloween e Gamma Ray, entre outros). Ou seja, imaginem a abertura de portas que uma turnê desta monta não representa para um grupo de jovens músicos que está nos primórdios se sua carreira... deve ter sido sensacional!

Com relação aos planos da banda, muito trabalho já está sendo feito, na medida em que eles estão trabalhando num novo disco. E tais planos são realmente bem ambiciosos, pois eles querem produzir este novo disco todo na Suécia.

A intenção é gravar o disco no Fascination Street Studio, que é de propriedade de Jens Brogen, um dos grandes produtores musicais da atualidade (pelo o que eu me lembro, foi esse cara que produziu vários discos do Opeth). No caso, o produtor com o qual eles querem trabalhar é o David Castilho.

Falando agora em termos de sonoridade e estilo, o som do Acid Tree vai muito na linha de bandas como Opeth e Porcupine Tree, onde a banda trabalha com canções extremamente melodiosas, mas que aliam viagem e peso com bastante intensidade. 


ÁLBUM ARKAN



Com relação ao álbum Arkan, como já mencionado, se trata de um trabalho que conta com seis canções muito bem elaboradas e performadas, as quais resumem tudo o que foi dito acima.

O disco começa com a canção que o nomeia, ou seja, Arkan. Música que tem em seu bojo uma mistura muito bem equilibrada em termos de peso e viagem melódica; a canção literalmente nos leva por caminhos fantásticos e enigmáticos. Em termos dos elementos sonoros, guitarra, baixo e bateria vão se intercalando e se misturando a todo momento, sempre com a voz clara, limpa e afinada de Ed Marsen indicando a trilha a ser seguida. Não dá para dizer que há a predominância de um dos instrumentos em detrimento de outros. Neste ponto, podemos dizer, mais uma vez, que há um equilíbrio muito interessante nesta música.

Same Face vem na sequência, e se desdobra musicalmente mais ou menos na mesma levada da canção anterior. Ou seja, continuamos a viagem fantástica que o grupo nos propõe.

A terceira etapa da viagem é tão alucinante e intrincada quanto as duas primeiras. Estou falando da música Righteous Violence, canção de melodia suave e com intensidade crescente. Esta me remeteu diretamente à música de uma banda da qual sou muito fã... Violeta de Outono, grupo musical capitaneado pelo músico paulistano Fábio Golfetti e que fez relativo sucesso a partir de meados dos anos 1980, fazendo um rock psicodélico bastante cativante. Se você não conhece a música do Violeta de Outono, vá atrás, pois trata-se de coisa fina.

Milestones, a quarta música, é uma pequena joia encrustada no meio do disco. Com apenas 1 minuto e 54 segundos de duração, a canção (toda instrumental) nos propicia momentos de serenidade e contemplação muito ímpares. Viagem curta, porém intensa.

Quinta faixa... a coisa fica séria... acordes tristonhos e lânguidos de guitarra, seguidos de batidas rápidas... o vocal num tom igualmente tristonho... tudo revelando segredos de uma vida que talvez esteja próxima do fim... será? 

Adrift é o nome da canção que me trouxe estas impressões. Mais para o final da música, o solo de guitarra acaba por realçar o ar triste intrínseco durante toda a melodia da canção, a qual, logo em seguida, termina de forma tão fortemente angustiante quanto seu início. 

Ao ler estas palavras, talvez o leitor tenha a impressão de que eu não gostei da música. Nada disso! Melodias e letras tristes não indicam que a música seja ruim, muito pelo contrário. Entretanto, não recomendo que a ouça se você estiver num momento ruim de seu dia.

Chegamos por fim ao trecho final e mais longo da nossa viagem musical, a canção Caged Sun. Esta, sem nenhuma sombra de dúvidas, é aquela que carrega as maiores influências dos suecos do Opeth. 

A canção tem exatos onze minutos e diversas inversões de andamento. As levadas são fortes, porém com peso moderado. Mas no geral, as melodias são bastante densas e igualmente intrincadas.

Algo importante a ser reparado por volta dos primeiros 55 segundos de execução da música são os acordes muito parecidos com o trecho inicial da canção "The Devil's Orchard", a qual figura no álbum "Heritage" (10º álbum de estúdio do Opeth). Talvez uma homenagem à banda.

Observação: depois que escrevi o parágrafo acima, troquei umas ideias com o Ed Marsen e ele me explicou que, na verdade, eles usam a mesma escala e não os acordes. De toda forma, este álbum teve muita influência do Opeth, registrou Ed.

Enfim, caríssimos amigos do rock, vou encerrando a resenha com a forte recomendação de audição da música do Acid Tree.

Eu, do meu lado, vou acompanhar o trabalho deles, sempre compartilhando com vocês as minhas impressões a respeito da evolução da banda.

Ah... quase que já ia me esquecendo... Recomendo que ouçam o podcast Drops Star Trips, edição de nº 29, o qual foi produzido por mim e divulgado no meu portal Star Trips.

Neste podcast, além de falar um pouco sobre o Acid Tree, no final da locução eu coloco três faixas do disco para que os ouvintes conheçam o trabalho do grupo. Vale a pena conferir.


Forte abraço a todos e até a próxima.

Betão